O Discreto Charme da Burguesia (Le charme discret de la bourgeoisie) - 1972

Resenha escrita por Raygner Carvalho Santos


A historia se resume a seis burgueses que desde o inicio do filme fazem tentativas frustradas de tentar se reunirem para jantar ao melhor estilo burguês com muitas trocas de mesuras e gentilezas, mas sempre esse ritual é interrompido, seja pela data desencontrada nas agendas, pela morte do dono do restaurante que está sendo velado no próprio estabelecimento, pelo desejo sexual descontrolado dos anfitriões, pela interrupção do Exército em manobras, pela polícia ou pelos terroristas.
Neste filme Buñuel faz uma divertida e sem duvida inteligente comedia que critica os valores a superficialidade e a hipocrisia dos burgueses, que tentam sempre se mostrar sorridentes, superiores e alheios aos “defeitos” do homem, mas que não passam de homens comuns com os mesmos problemas, sentimentos e desejos de qualquer outro, Buñuel evidencia isso muito bem, mostrando o alcoolismo, o adultério, a doença e o tráfico de drogas em que os personagens estão envolvidos.
A sua superficialidade é satirizada em discussões sobre as trivialidades do horóscopo, ou sobre como a melhor forma de se servir um carneiro ou de se tomar um vinho. Em uma cena em que um dos personagens sonha que foi jantar na casa de um general e que na verdade a casa era um palco de teatro, Buñuel deixa a entender que a burguesia é tão superficial que eles agem sempre como se estivessem atuando.
A hipocrisia esta sempre retratada nos modos dos personagens agirem, mesmo que interrompidos em todas as vezes por situações estranhas diga se de passagem, eles não perdem a pose, se comportam de maneira como se tudo aquilo fosse normal e não os afetasse, não afetasse o sagrado ritual burguês.
Mas Buñuel como gênio que era soube também fazer algumas denuncias no filme, como por exemplo, a tortura que a policia realizava impune, mostrando isso através do sonho do delegado em que todos morrem de medo do Fantasma do Brigadeiro Sangrento. Denuncia também através do embaixador de Miranda a situação da America Latina naquela época (1972), o embaixador sempre afirma que tudo vai bem em Miranda, que os guerrilheiros já fazem parte do seu folclore, os estudantes são como moscas varejeiras e a justiça não pode ser comprada, e naquela época e até hoje o que acontece ou acontecia era justamente o contrário.
Outro aspecto criticado por Buñuel é a igreja, seu principal desafeto que é idealizada no personagem do padre, que é um homem santo e, portanto prega que devemos perdoar, mas que no final não perdoa e mata o assassino de seus pais.
O filme inteiro é uma critica inteligente e muito bem planejada, mas sem duvida um das passagens mais inteligentes e planejadas do filme seja o seu final em que mesmo com todas as criticas ferrenhas feitas por Buñuel, a burguesia vai muito bem obrigado e segue sempre sorridente e bem arrumada por uma estrada asfaltada e sem fim.


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