Comentando um desses vídeos "virais"

Por José S. A. Melo



Nos últimos meses, recebi de amigos, familiares e pessoas próximas, que conhecem a minha posição frente a fé e religiosidade deles próprios e de outrem, o vídeo que segue abaixo. Ele já é bem antiguinho, já o conhecia há tempos, mas sei lá o porquê , tais pessoas resolveram tentar me comover com ele agora. Foram nada mais do que 27 indicações para que eu o assitisse, fiquei muito incomodado, realmente me senti agredido com tal situação. Espero que o argumento que ele traz não convença a mais nínguém, e pelo amor que vocês têm em Deus (hehe...) não levem doutrinas e dogmatismos para suas salas de aula. Compartilho ele aqui no blog cinemacomvida, com intuito de polemizar a questão, e logicamente, utilizo este espaço para fazer minhas considerações sobre o conteúdo do vídeo e responder aos 27 engraçadinhos(as) que acharam que iriam tocar profundamente em minha alma...



Primeiro dei uma breve pesquisada sobre a República da Macedônia, país promotor desta propaganda, descobri que é uma república cristã, opressora e com uma história repleta de violência ideológica e atentados contra a liberdade.., e onde uma minoria da população que é de origem albanesa é massacrada por uma perseguição política e religiosa... Já mataram muito em nome de Deus, e ainda em pleno o século XXI continuam matando... Por isso a religião é importante para esse povo ( e para seu governo), e por isso existem propaganda deste tipo por lá, ela a religião, legitima os assassinatos dos albaneses...

"Pense sobre as coisas perversas que são decretadas pela religião. A mutilação dos genitais de crianças, por exemplo. Quem faria isso, se não fosse, visivelmente, um fanático com uma promessa selada com Deus? Quem iria dizer, ao receber um recém-nascido, ‘Parece perfeito, mas precisa ser mutilado na genitália antes de ficar realmente ok’? Somente a religião leva as pessoas a fazerem algo tão horrível, tão insano." (Fonte: Blog Um longo argumento: http:/charlesmorphy.blogspot.com/2011/02/somos-todos-ateus.htm)

Vamos refletir um pouco... dialogando com gente realmente boa no assunto, comecemos pois, usando a mesma citação feita por Charles Morphy, autor do blog citado acima:

"A realidade é aquilo que, quando você para de acreditar, não desaparece" .Philip K. Dick em “How To Build A Universe That Doesn't Fall Apart Two Days Later (1978)

Agora comento o enredo deste pequeno filme: O frio ou a escuridão não existem, são ambas ausência de calor e frio... uma hipótese aparentemente correta. Existir ou não existir são questões filosóficas da idade média... São Tómas de Aquino e Santo Agostinho, ambos teólogos e filosófos tratam bem a questão, gosto destes caras e de suas formas de pensar, mesmo oriundos da igreja, subservientes e tementes a Deus... Mas essa questão "a existência das coisas" já foi superada, e foi por um dos primeiros Cientistas modernos, René Descartes, já ouviram falar nele, né? Ele chegou a uma verdade incontestável, que é base de sua filosofia, em um dos pensamentos mais profundos de toda história humana:- "Cogito ergo sum" (Penso, logo existo!) Pronto as coisas existem, inclusive eu, minha existência, a medida que são idealizadas, pensadas. O fato de haver pensamento exige a existência do ser pensante, colocação perfeita, incontestável! Com as coisas, e com os deuses, é a mesma história, um desdobramento infeliz do pensamento de Descartes foi que ele tentou provar a existência de Deus.. Ohh, Voilá...... Porém, Shakespeare outro cara genial, lança uma questão mais perturbadora em sua célebre obra "Hamlet"..Ele lança a seguinte questão: "Ser ou não ser?". Aí que a coisa pega, e aí que desdobramentos e reflexões sobre a natureza ganham outros sentidos, sejam eles psicológicos, psiquiátricos, morais, metafísicos, etc e tal... A Ciência trata do "real", não do "existir" (existir é metafísico, não físico, não científico!). Um cientista não pergunta se as coisas existem ou não existem no sentido metafísico, eles perguntam se as coisas são reais ou não são reais... Pensando "cientificamente" o frio e a escuridão, podem não existir, mas são reais...Como assim, zé seu doido? Vocês devem estar me perguntando, né? Vou ilustrar com os exemplos do pequeno fajuto Albert Einsten deste filme.... Pensem comigo. Consideremos que a hipótese levantada seja verdadeira: Frio e Escuridão não existem. Porém, pergunto se não são reais a ausência de calor e da luz, ausências que causam o frio e a escuridão? A resposta para tal questão é óbvia: Sim são reais a ausência da luz e calor... Percebem a sutiliza? Lancem a questão sobre o mal ou sobre Deus...O mal é real? Sim o mal é real, percebe-se a maldade toda vez que se lê o jornal. Deus é real?... Não, pessoal, esse Deus do cristianismo, ou qualquer ser divino postulado por qualquer religião não são reais. Parafraseando Richard Dawkins, "Deus é um Delírio!". Veja o pensamento de Philip K. Dick que coloquei acima, aplicado ao pobre, ignorante e errôneo discurso deste vídeo que é lamentável, estúpido e bobo: Se eu parar de acreditar na maldade ela ainda permanece? Sim permanece. Imagine-se agindo ingenuamente, acreditando que não há maldade e que todos são bondosos, caridosos, e que só querem seu bem, em uma noite no centro de uma grande capital, possivelmente algum dano causarão a você, isso porque a maldade é real... E quando paro de acreditar em deus, ele ainda permanece? Não, não permanece...isso porque ele não é real. Um maluco pode não acreditar no frio ou na escuridão, mas mesmo não acreditando, ele ainda conseguirá perceber quando está frio ou escuro, não é mesmo? Outro maluco pode não acreditar na maldade, mas conseguirá perceber quando um injustiça ocorre. E isso por quê? Porque o frio e escuridão, assim como a maldade são reais... Muitos de vocês podem até não concordar comigo agora, os fundamentalistas muçulmanos e os conservadores americanos são exemplos daqueles que discordam. Espero que um dia muitos deles entendam a ilusão de suas crenças, e enfim poderão parar de violentar aqueles oriundos de diferentes tradições ou culturas. Para chegar até lá é simples, só dar um pequeno passo e reconhecer, assim como Christopher Hitchens (2007) que:

“Deus não é grande”

PS: Acredito que a história do vídeo é fantasiosa e que o Ensteinzinho seja totalmente fícticio. Por eu ser um amante da física, por já estudar física moderna (deu trabalho a disciplina CEX 197 na época da graduação, hehe ), e por causa dela ainda ando estudando a obra, vida e pensamento de Albert Einstein. Nas fontes que consulto sobre a biografia dele, nunca vi algum episódio parecido com o desta narrativa.