Resenha do filme “A sombra de uma dúvida” – "Shadow of Doubt”- (1943) de Alfred Hitchcok

Resenha de Cláudio Márcio Oliveira, em 20 de outubro de 2014


FICHA TÉCNICA
Título Original: Shadow of a Doubt
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Thornton Wilder, Sally Benson e Alma Reville
Produção: Jack H. Skirball
Elenco: Teresa Wright (Young Charlie), Joseph Cotten (Uncle Charlie) MacDonald Carey (Jack Graham), Henry Travers (Joseph Newton), Patricia Collinge (Emma Newton), Hume Cronyn (Herbie)
Duração: 108 minutos





Considerado por muitos como o filme preferido de Hitchcock, A SOMBRA DE UMA DÚVIDA, de 1943, expõe mais uma vez as habilidades geniais do “Mestre do Suspense”. A trama se inicia com a chegada de Tio Charlie à pacata cidade de Santa Rosa, onde vive sua sobrinha homônima, Charlie. Toda a trama se desenrola até que Charlie, um homem admirado por todos de sua comunidade, portanto, acima de qualquer suspeita, revela-se um assassino em série.
O desenrolar da trama segue, ao mesmo tempo nesta obra do Diretor, o mesmo ritmo e o mesmo “timing” da cidade de Santa Rosa: lento, sem sobressaltos, rotineiro. Tudo isso muda com a chegada da “novidade” à cidade: a presença de Tio Charlie, apresentado em um dos elementos imagéticos mais fortes: a aparição de uma locomotiva com sua fumaça preta, símbolo do mal agouro que estava por vir. Timing lento e soturno que contrasta bastante com a aceleração de “A DAMA OCULTA” (1938), outra produção do Mestre do Suspense.
Gradativamente outros elementos são apresentados na trama, permitindo ao espectaqdor construir o perfil da personagem. Uma série de elementos de azar, como o chapéu na cama, o número 13 (abominado na cultura estadunidense), e o caráter fúnebre do quarto de Tio Charlie contrastam com a admiração profunda de sua homônima, a sobrinha Charlie, que até boa parte do filme ostenta a admiração e a perspectiva de mudança e novidade daquela pacata e tediosa cidade. Tio Charlie apresenta, portanto, um lado ao mesmo tempo perfeito e sombrio. Assim como da própria família tradicional americana retratada no filme, tão ordeira quanto perversa (os casos de hobby de como se fazer assassinatos, por parte do pai da jovem Charlie, Joseph, com seu amigo Herbie, são emblemáticos nesse sentido), tão avançada quanto simplória.
Perfeição e obscuridade que de certa forma fazem um diálogo dos personagens do filme ao mesmo tempo com as figuras do vampiro, mas também, dialogando com o contexto de época, dialogam também com a figura do Fhurer, na qual perfeição, altivez e ótima oratória escondem seu oposto, o déspota tirano e assassino. Fato esse corroborado de certa forma com a exposição constante da valsa “A VIÚVA ALEGRE”, preferida por Hiltler na vida real. Imagens super atuais, inclusive e em especial em tempos de corrida presidencial aqui no Brasil.
A admiração recíproca quase incestuosa entre a sobrinha Charlie e seu adorável tio de mesmo nome vai a pique quando entra um terceiro personagem: o detetive que investiga os assassinatos que, ao longo do filme, conquista a admiração da jovem Charlie, que se envolve a seu modo e com seus métodos no furor investigativo também. Mudanças no objeto de desejo que se tornam fundamentais para o esclarecimento. Fato que torna o amor em ódio, marcado pelas tentativas sistematizadas do Tio Charlie assassinar sua sobrinha.

Ao término do filme, como também dessa resenha, a necessária problematização do final hitchcockiano, que aqui vai se assemelhando cada vez mais com o happy-end holywoodiano. Tanto a jovem Charlie se livra Don tio assassino e se enamora do detetive, como a própria família tradicional americana, tem seus próprios finais felizes. Poderíamos dizer até mesmo do Tio Charlie, cuja morte nos trilhos do trem salvou-lhe a imagem perante as simplórias e pacatas famílias da cidade de Santa Rosa. O que nos leva a pensar os destinos que a produção cimentaográfica de Hitchcock teriam caso não houve houvesse na cultura cinematográfica estadunidense esta prescrição.

Fontes de diálogo:



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