Resenha do filme “Psicose” (1960) de Alfred Hitchcock

PSICOSE: UMA OBRA ARQUITETÔNICA DE IMAGEM E SOM
Por: Cláudio Márcio Oliveira

FICHA TÉCNICA
Título original: Psycho
Ano de lançamento: 1960
Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Joseph Stephano, baseado no romance de Robert Bloch
Duração: 109 minutos
Elenco: Anthony Perkins (Norman Bates), Vera Miles (Lila), John Gavin (Sam), Janet Leigh (Marion), Martin Balsam (Arbogast)
Indicações ao Oscar: Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Janet Leigh), Melhor Fotografia em Preto e Branco, Melhor Direção de Arte em Preto e Branco  

 “Audacioso e surpreendente, o filme “Psicose” provocou uma verdadeira comoção junto ao público e se tornou uma das obras mais queridas do mestre do suspense Alfred Hitchcock. O roteiro é de Joseph Stefano, baseado em livro de Robert Bloch. Baseada em um romance que teve como inspiração uma série de crimes reais, a produção transformou-se numa verdadeira obsessão para o consagrado diretor e, apesar da desaprovação de seu estúdio, a Paramount, Hitchcock decidiu ir em frente e concretizar sua visão artística, arcando com todos os custos.
A secretária Marion Crane (Janet Leigh) rouba 40 mil dólares para se casar, e no meio do caminho hospeda-se em um motel de beira de estrada e é assassinada. O final do filme, que na época de seu lançamento foi surpreendente, ainda hoje causa espanto a cada nova geração de espectadores, que se deliciam com o sarcasmo do bom e velho mestre Hitchkcock.
É sem dúvida um dos maiores clássicos de suspense da história do cinema. A música de Bernard Herrmann virou referência, e apesar do filme já ter completado mais de 40 anos, é uma das mais conhecidas trilhas da historia. Um dos filmes mais cultuados e conhecidos no mundo todo, “Psicose” ainda hoje, alcança audiências altíssimas em todas as suas reprises na televisão.
Recebeu quatro indicações ao Oscar, foram elas, a de Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Janet Leigh), Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte – Preto e Branco. Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante (Janet Leigh).” 



Com base na citação acima, gostaria de destacar dois aspectos, dentre os muitos que me chamaram a atenção e que poderiam ser discutidos nessa obra. Trata-se das arquiteturas de imagem e de som. Esta comunhão tão perfeita fez, em termos práticos, Bernard Hermann co-autor do filme junto com Alfred Hitchcock.
No plano das imagens que falam por si, deliberadamente escolhidas em preto e branco, Hitchcock dispensa os grandes textos para os personagens, e compõem, por questões muito mais estéticas que orçamentárias, um jogo de imagens com temporalidades de calmaria mescladas com tensão, um diálogo com o espectador que o prende a todo tempo em seu suspense.
Por outro lado, a gestão do som tem um papel espetacular no filme, capaz até hoje de produzir sensações de suspense, arrepio e pânico, em especial na célebre cena do assassinato do chuveiro. O som agudo dos violinos no assassinato de Marion, mas também os outros acordes tocados nos demais momentos cruciais do filme (como no momento de sua fuga de Phoenix) acabam por não apenas produzir sensações de suspense nos espectadores, mas praticamente implicá-los como cúmplices na trama.
Por tudo isso, entendo o filme Psicose quase que como uma grande obra de arquitetura: uma arquitetura de imagem e de som e, como para mim o espaço também é linguagem, temos no filme uma tríade de formas de comunicação: imagem, sonoridade e espacialidade. Esta última marcada nos vários lugares que se desenrolam a trama: de Phoenix até o Motel Bates (com sua sinistra casa de três andares), passando pelo banheiro e pelos pântanos onde se tenta esconder o filme nos ensinam que o lugar não é neutro, mas produz sensações e leituras aos espectadores. É mais que cenário, é também mais um ator em cena: tão sutil quanto imprescindível.

Para finalizar esta breve resenha, apenas mais dois comentários, em torno do roteiro e do happy-end do filme que, ao meu ver, são bastante contrastantes. O primeiro é marcado por sua imensa originalidade, por vezes quase passando uma sensação de que tratam-se de dois filmes em um, separados pelo assassinato de Marion, mas que têm, de forma não gratuita (se me permitem o trocadilho), os quarenta mil dólares como ponto de ligação da trama, unificando-a. O segundo, em forte oposição ao primeiro, é o didatismo exagerado ao final do filme, indo na contramão de todos os recursos de linguagem explorados ao longo do mesmo. Didatismo esse que, ao subestimar a cumplicidade dos espectadores que acompanham o desenrolar do filme, nos levam a problematizar o lugar da produção e dos valores cinematográficos estadunidenses no fazer da trama. Talvez aí resida outro ponto de conexão entre os famigerados 40 mil dólares e as necessidades para o fazer fílmico de Hitchcock.


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