Adeus à Linguagem

Por Dalva de Souza Lobo

FICHA TÉCNICA
Ano: 2014
Direção: Jean-Luc Godard
Elenco: Héloïse Godet, Kamel Abdelli, Richard Chevallier
Gêneros Drama, Experimental.


Como aponta a ficha técnica, o filme-ensaio de Godard, filmado em 3D e lançado em 2015, corrobora a linguagem experimental, controversa e nada convencional.

As cenas fragmentadas mostram um casal que apesar de junto, não dialoga e nem tem intimidade, apesar das cenas bem íntimas entre ambos.
O título remete a uma busca de compreensão sobre a linguagem como signo e sobre a linguagem cinematográfica, em especial. Em ambos os casos, fica evidente que as palavras não expressam a potencialidade dos sentimentos e da mesma forma que não contemplam as relações, seja a interpessoal, seja a das artes, no caso, a do cinema.   
     
Semioticamente, as rupturas com a linguagem apontam para sua imaterialidade sígnica, ou seja, o significante, seja palavra, seja escrita ou imagem apresenta-se no filme como insuficiente para designar o objeto e nesse sentido, transcende o transcende, por isso muitas vezes não é possível compreender a ruptura entre imagens, ora sonoras, ora apenas visuais, apelando para os sentidos do telespectador talvez muito mais do que para seu intelecto.  Nessa perspectiva, o filme é metalinguístico, pois usa a linguagem do cinema para discutir o próprio cinema, podendo ser compreendido também como uma obra aberta, se considerarmos a obra homônima de Umberto Eco.    

As cenas em off e os fragmentos são a marca que acompanha a impossibilidade de diálogo do casal protagonista, Héloïse Godet e Kamel Abdelli, cujas cenas de angústia marcadas pelas tentativas de fala, nem sempre são traduzidas, ficando ao espectador, o silêncio que incomoda na medida em que requer dele uma sensibilidade maior para compreender o não dito. Outro ponto importante é o assassinato como forma de deter o desemprego, bem como a nudez, tanto a do casal quanto a naturalmente exibida pelo cão, que ora é ressaltado, ora é subsumido pelos sons da natureza. Nessas cenas parece que o cineasta busca comparara a vida animal à humana, relegando esta última a um segundo plano.

A linguagem, extremamente poética, apesar de entrecortada, fragmentada, é atravessada por cenas da natureza, da violência (assassinato) e do cachorro, que em alguns momentos parece ser mais importante que o humano, e talvez o único a realmente integrar-se com a natureza, já que não possuindo intelecto, não vive os conflitos humanos, representados pelo casal.  


  

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