Marcela de Fátima Naves
Raygner Carvalho Santos
Lançado em 1925,
Jardim dos prazeres (The Pleasure Garden), é a primeira obra dirigida por
Alfred Hitchcock, que mesmo contando com um baixo orçamento e com uma equipe
ainda inexperiente, conseguiu demonstrar nessa película, características que
marcariam toda a sua obra, como por exemplo, o “close” nas expressões e nas
reações dos personagens e a ambigüidade, característica herdada do
expressionismo, que em diversos momentos coloca em choque forças opostas, como
luz e sombra, cômico e trágico, dentre outros. Além dessas características, se
analisarmos bem essa obra, podemos dizer que em certa medida ela já contem em
gérmen um dos elementos de psicose, ou seja, a questão dos mortos que
atormentam os vivos, aliás, psicose parece ser a reunião de alguns elementos
que se encontram em diversos filmes, a cena da banheira por exemplo, parece ser
prenunciada no filme “o terceiro tiro” de 1956, na cena em que os personagens
escondem o corpo do morto problemático no banheiro. Outra relação, também pode
ser feita entre a cena que Patsy
tropeça em Hugh e a cena do filme “Pacto sinistro” de 1951 na qual Gay, esbarra
os pés em Bruno, começando ali todos os seus problemas.
Uma outra característica bem marcante nos filmes de
Hitchcock que já se apresenta nessa primeira obra, é o fato de o inicio de
alguns de seus filmes nos darem a falsa impressão de que a historia girará em
torno de um personagem, quando na verdade o centro da historia será outro, no
inicio desse filme, temos a falsa impressão de que será narrada a historia da
Jill, mas com o decorrer do filme, quem toma o papel principal na verdade é a
Patsy, assim como no filme “O inquilino sinistro” de 1926, no qual o filme
parece ter o detetive Joe Chandler como centro da trama, que acaba girando em
torno do acusado Jonathan Drew.
Um ponto forte do filme, que é um dos poucos filmes mudos
do diretor, é o fato das cenas serem muito bem interpretadas, chegando a tornar
a legenda que aparece em alguns pontos, desnecessária, pois a imagem já havia
deixado claro o que a cena queria dizer. Mas, vale ressaltar que apesar de se
encontrar nesse filme algumas características que marcaram a trajetória
cinematográfica de Hitchcock, “Jardim dos prazeres” é mais um experimento do
diretor que uma verdadeira exposição de sua genialidade, mas destaco também,
que se essa historia tem algo de interessante, deve-se a maneira hitchcokeana
de filmagem, pois apesar de ser uma historia bem movimentada, como aponta
Truffaut, em alguns momentos ela é pouco estimulante e se não fosse o toque do
diretor, ela seria algo pra se esquecer.
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