AMOR AOS 20 ANOS - ANTOINE E COLETTE
Gênero: Romance
Ano: 1962
Sinopse
Este filme é constituído por cinco
episódios (curta-metragem) sobre o amor, sendo cada um dirigido por um jovem
diretor de diferentes lugares do mundo: Andrzej Wajda (Polônia),
François Truffaut (França), Marcel Ophüls
(Alemanha), Renzo Rossellini (Itália), Shintarô Ishihara (Japão).
A proposta era mostrar o primeiro amor
e todos os seus impasses, prazeres, conquistas e decepções entre jovens em
diferentes cidades. Os episódios mostram como eles descobrem a paixão, como
lidam com a recusa, com a dor e como superam essas situações. Os anseios dessa
fase da vida são retratados de modo simples e romântico, mostrando também os
aprendizados que essa fase pode proporcionar: persistência, paciência, renúncia
e outros.
Entre um curta e outro:
è Aparece o nome do diretor e da cidade
retratada
è Vários casais e diversas pessoas são
mostradas realizando atividades do cotidiano ao som da música de Georges
Delerue
1-François
Truffaut dirige o
primeiro dos cinco episódios. Conta a história entre um amor não correspondido
entre Antonie e Colette. Quando dirigiu o curta, Truffaut já tinha no currículo
filmes como “Os incompreendidos”, “Atirem no pianista” e “Jules e Jim – uma
mulher para dois”.
Um
pouquinho sobre François Truffaut
François Truffaut produziu um conjunto de cinco filmes
com o personagem Antoine Doinel, que mostra o crescimento do personagem dos 15
aos 35 anos.
Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud)
aparece pela primeira vez no filme “Os Incompreendidos” e após, deu vida
ao personagem em mais outros quatro filmes do diretor: “Amor aos 20 Anos”,
“Beijos Proibidos”, “Domicílio Conjugal” e “ Amor em Fuga.” Cada
filme retrata uma fase diferente da vida de Doinel.
O personagem que o cineasta expõe diante de
nós é inspirado nele mesmo. Ao ver Antoine Doinel, sabemos que estamos vendo
também François Truffaut.
Antoine
et Colette
Antoine et
Colette é um curta-metragem com 35 minutos de duração. O curta conta com a
presença do narrador e mostra o cotidiano dos personagens, como era bastante
comum nas obras da Nouvelle Vague. O filme tem cortes e brincadeiras estéticas
que nos lembram um pouco “Atirem no pianista”.
O jovem François Truffaut aproveitou a
oportunidade para retomar o personagem de seu longa-metragem de
estréia: “Os Incompreendidos”. Naquele filme, lançado em 1959, com grande
receptividade pela crítica do mundo inteiro, contou a triste história de
Antoine Doinel, um adolescente parisiense infeliz, com uma mãe infiel. Propenso
a mentir para a mãe e o padrasto, o garoto faltava às aulas, não se importava
com os estudos e mostrava indícios de estar mergulhando na marginalidade, indo
parar num reformatório.
Quando atuou em “Os incompreendidos”,
Antoine Doinel tinha 14 anos de idade. Em Antoine et Colette, lançado em 1962,
ele estava com seus 18 anos e no último filme “O Amor em Fuga” de 1979, Antoine
Doinel estava com 35 anos.
“Antoine et Colette” não mostra o
que aconteceu com Antoine Doinel desde o final da narrativa em “Os
incompreendidos”. Inicia mostrando-o com 18 anos, trabalhando na fábrica de
discos da Philips, na época uma das maiores gravadoras do mundo e morando em
Montmartre, o bairro da boemia, dos artistas, não muito distante da belíssima
Basílica do Sacré Coeur.
· (A
Basílica aparece em cenas de Antoine et Colette e também nos três
filmes seguintes das aventuras de Antoine Doinel.)
O jovem Antoine
continua sendo um leitor voraz e é também absolutamente apaixonado por música.
É frequentador assíduo dos concertos para a juventude, juntamente com seu velho
amigo René (Patrick Auffay). É num desses concertos que pela primeira vez Antoine
vê Colette e passa a admirá-la em segredo por algum tempo até que consegue
abordá-la.
O jovem casal possui várias diferenças:
Ele vive sozinho, jamais visita a mãe,
que ainda estava viva naquela época; Colette vive com a mãe (Rosy Varte) e com
o padrasto (François Darbon). Ele não estuda, só trabalha; ela só estuda, não
trabalha. Ela tem a vida bem mais estruturada que a dele, mais confortável no
que se refere à questão financeira.
Antoine se apaixona perdidamente por
Colette, enquanto Colette provavelmente só gosta dele como amigo. É uma
história de amor que não é feliz, já que o amor não é correspondido.
Uma característica importante de
Antoine que aparece em “Antoine et Colette” e vai reaparecer nos
filmes que virão a seguir é que ele consegue conquistar os pais das amigas e/ou
namoradas. A mãe e o pai de Colette afeiçoam-se a ele, o convidam sempre para
jantar com eles,mas em uma das noites Colette deixa Antoine em companhia deles
e sai com outro rapaz.
Para um garoto que cresceu longe dos
pais, isso é fundamental: ele encontra na casa das amigas e/ou namoradas a
companhia familiar que sempre faltou na sua vida – assim como faltou na vida do
cineasta que o criou. Truffaut, numa
entrevista reproduzida no livro “Truffaut par Truffaut”, de Dominique Rabourdin,
diz que, diferentemente do que acontecia em “Os incompreendidos”,
em “Antoine et Colette” há adultos muito simpáticos: “Não se fala
mais do garoto, nem de sua família. São apresentados os pais da moça – dessa
vez montei uma família diferente, uma família que vai bem. É por isso talvez
que eu ame este filme: é porque ele é mais leve e ao mesmo tempo simples. Acho
mesmo que ele seja mais próximo da vida. Eu o fiz num momento
descuidado: Jules et Jim tinha acabado de sair e tinha sido muito bem
recebido, o que me fez trabalhar para fazer “Amor aos 20 anos” com
muita alegria.”
Embora o filme aborde o amor como tema
principal teve pouco sucesso e foi rapidamente retirado dos cinemas,
apresentando fraca aceitação.
O filme usa os mesmos recursos
de “Os incompreendidos”: mostra a cidade de Paris em muitas cenas.
Truffaut demonstra grande apreço pela cidade na qual vive: as avenidas, cafés,
autocarros, cinemas, edifícios e apartamentos conferem ao filme, um aspecto
quase de documentário. A cultura jovem dos anos 1960 é fielmente recriada: a
música (clássica e pop), o gramofone, as ‘festas-surpresa’, chamadas
telefônicas, conversas de café, idas ao cinema, um primeiro gosto de
independência e o amor.”
2-Andrzej
Wajda dirige o episódio que gira em torno de um jovem soldado cujas
façanhas provocam a admiração de uma mulher.
A personagem inicia a cena namorando
num zoológico e numa situação de perigo espera de seu companheiro uma atitude
que não é tomada. Ao invés de ajudar a criança ele tira foto das cenas
(semelhança com os dias atuais e com a necessidade que as pessoas estão
desenvolvendo de registrar os fatos através dos cliques). Um desconhecido chega
e toma a atitude que, talvez ela gostaria que o namorado tivesse tomado. A
partir daí passa a nutrir uma grande e inesperada admiração por esse
desconhecido e o leva para sua casa. Tenta seduzi-lo, mas em pouco tempo
percebe que não têm muitas afinidades e perde o encanto inicial. O namorado não
desiste e vai até a casa da namorada aguardá-la sair de casa. Iniciam um
diálogo, saem e se divertem, como uma continuação do início do filme.
3-Renzo
Rossellini segue as
aventuras de duas mulheres que compartilham do mesmo homem.
A história inicia com um casal
discutindo a relação amorosa, mas o motivo não fica claro.
Quando terminam a conversa ele vai até a
casa da amante, Valentina, para terminar o relacionamento. Ela parece mais
velha, tem boa condição financeira e ajuda Leonardo dessa forma, sabe da
existência de Christina, mas diz não se importar em ter de dividi-lo. Afirma
que a relação que têm é realidade e a que quer viver com a namorada é um sonho.
Leonardo termina tudo e vai embora, resolve até deixar o carro, dando a
entender que também foi um presente. A amante não aceita perdê-lo e procura
Christina para contar de sua existência e aconselhá-la a deixar Leonardo
apresentando vários argumentos, dentre eles: “Riqueza é uma droga”. A amante
vai embora e o filme termina com Christina chorando.
4-Shintarô
Ishihara mostra o
retrato de um jovem trabalhador que se torna um assassino de mulheres.
O filme inicia com dois jovens
admirando uma moça que vêem no metrô. Um dos jovens, Hiroshi, passa a nutrir um
amor por essa moça que ele nem ao menos sabe o nome. Ele aparentemente leva uma
vida normal, não demonstrando nenhuma atitude que desperte suspeitas por parte
de seus companheiros de trabalho. Apenas parece um pouco tímido e triste. Na
cena em que os amigos propõem uma comemoração pelo seu aniversário, ele diz:
“Não tenho coisa alguma para celebrar”.
Depois de um tempo, começa a segui-la
para descobrir onde mora. Paralelamente a isso, comete o assassinato de uma
colega de trabalho que demonstra interesse por ele. Numa noite segue novamente
a amada e a mata covardemente. O filme termina com Hiroshi ligando para a
polícia, confessando o crime e se justificando dizendo que todos queriam
conhecê-la, mas agora ela iria pertencer a ele para sempre.
Embora seja uma história triste, é
bastante comum em nossos dias; diversos acontecimentos desse tipo são
noticiados na imprensa. No caso da jovem do metrô, ela não mantinha um
relacionamento amoroso com o assassino, nem o conhecia, mas muitas jovens têm
sofrido violências de seus companheiros que, em muitos casos deixam graves
sequelas ou até mesmo as levam a morte, principalmente pelo ciúme excessivo e
doentio.
5-Marcel
Ophüls dirigiu o
episódio sobre um jornalista que engravida uma mulher depois de um breve
encontro e que deve enfrentar suas responsabilidades como pai.
O filme se inicia com um
jornalista, chamado Tonny, chegando de viagem e comprando uma flor para a mãe
de seu filho que acabou de nascer. Um detalhe importante é que é possível perceber
a presença de um narrador que em alguns momentos conta a história de Tonny.
Chegando ao hospital ele vê a criança e encontra a mãe, Úrsula Danning.
Enquanto conversam, o médico entra no quarto e sugere que saiam do hospital e
façam um passeio já que o dia estava lindo (sugestão quase impossível na vida
real). Eles aceitam, conversam bastante sobre a vida, da forma como se
conheceram, sobre o tempo que passaram juntos e sobre o futuro. Começam a fazer
alguns planos... Resolvem sair dali e ir a um restaurante e durante a conversa
uma conhecida de Tony, Vera, passa de carro e grita dizendo que o encontrará à
noite conforme haviam combinado. Úrsula vai embora sem que Tony perceba; ele
vai até ao hospital, mas não o deixam entrar. Ela sabe que no outro dia ele
viajará para Paris e pela manhã, sai novamente do hospital (dessa vez
escondida) para encontrar-se com Tonny na estação. Ele fica feliz em vê-la e
voltam a fazer planos para o futuro.
Os episódios nem sempre mostram finais
felizes, mas tem a intenção de mostrar diversas situações que podem acontecer
nessa fase da vida.
Eles nos fazem lembrar de nossas
próprias experiências amorosas da mocidade, de todos os encantos e desencantos
que os amores aos 20 anos podem nos proporcionar.
Por Elisangela Xavier, Flávia
Brito e Tainara Brito
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