O Quarto Verde – François Truffaut
Por
Carlos Betlinski, Elisangela Brum Xavier,
Julia
de Jesus Souza Resende e Larissa Brunelli da Silva
Esse filme, conta a história de Jullien
Davenne e sua “obsessão” pelos mortos, o filme começa trazendo cenas da
primeira guerra mundial, tendo imagens sobrepostas do rosto do personagem
principal, Davenne. A trama se passa 10 anos após o fim da guerra, e logo em
seguida, o filme se segue com a morte de Genevieve Mazet esposa de Gerard Mazet.
No funeral Davenne faz um discurso à seu amigo dizendo o quanto os mortos estão
vivos dentro de nós.
Jullien é um homem viúvo que nunca superou a morte de sua esposa e
acreditava que os mortos não deveriam ser esquecidos, para isso ele constrói um
altar para sua esposa, o denominado quarto verde, onde ele guarda pertences da
mulher e até mesmo a leva presentes.
Davenne mora com sua governanta e Georges, um menino surdo que vive sob
sua proteção, ele trabalha em um jornal e o tempo todo no filme fica evidenciado
essa obsessão pela morte, seja em casa, ou seja no trabalho. Sua relação com
Georges é um tanto quanto estranha, o filme não deixa claro quem era o garoto,
sem explicar por qual razão ele mora sob os cuidados de Davenne, no entanto nos
trás um fato curioso, pois com o menino Davenne ele demonstra um pouco mais de
afeto, o que nos remete ao fato do menino expressar justamente o que é Jullien,
essa incapacidade de se expressar.
Em casa ele guarda várias imagens de mortos durante a guerra, no
trabalho, fica evidenciado no fato de Jullien trabalhar como obituário e
recusar todas as propostas de ir trabalhar num jornal melhor. Quando seu chefe
lhe pergunta o motivo pelo qual ele insiste em trabalhar em um jornal cujos
assinantes ou já morrerem ou são velhos, ele diz que é exatamente esse o
motivo, ele está lá por eles, pelos mortos.
É numa de suas buscas a presentes para sua falecida esposa que Jullien
encontra Cecília Mandel, uma bela jovem que trabalha como assistente de
leiloeiro. Essa é outra ligação do filme com a morte, pois Cecília, assim como
Jullien, apresenta um amor aos mortos, no entanto diferente dele porque ela
acredita que é possível amar e respeitar os mortos sem deixar de viver.
Os dois começam a conviver e até mesmo é possível notar que ela
desenvolve um amor por ele, no entanto Davenne se recusa a se abrir para novas
paixões. Um exemplo disso é a cena em que seu amigo Mazet lhe procura para
apresentar-lhe sua nova esposa, Jullien fica inconformado e acha um absurdo o
amigo ter se envolvido com outra mulher depois que ficou viúvo, ele chega a
comparar o novo casamento de Mazet com uma “troca de empregada”.
Um dia durante uma forte tempestade que ventava muito, as velas do
memorial para sua esposa caem e acabam colocando fogo no quarto, destruindo-o. Davenne
em uma de suas idas ao cemitério encontra uma capela abandonada e acaba por
convencer o padre a deixá-lo reformar e fazer dela um santuário. Nesse
santuário Jullien coloca fotos e uma vela para cada pessoa que de alguma forma
teve passagem por sua vida, desde sua esposa até um inimigo guerrilheiro. Jullien
Davenne convence Cecília a ser guardiã junto dele do memorial que ele construiu
para ‘seus mortos’, e propõe a ela que quando ele morrer será função dela
acender sua vela.
O relacionamento um tanto quanto estranho dos dois se dissolve quando
ele descobre que Cecília teve um caso com Massigny, um velho amigo com quem teve
desentendimentos no passado e por quem demonstra guardar um profundo rancor e
decepção, é notável durante a passagem do filme que esse amigo foi uma das
pessoas que o fizera perder a completa esperança nos vivos, no entanto não fica
claro o motivo.
A trama se
encerra com Cecília acendendo a vela por Julien após sua morte dentro do
memorial por ele construído. Quando descobre que o único morto que Cecília gostaria
de exaltar era Massigny, Davenne se isola no antigo quarto verde, sem comer,
assim ele enfraquece e adoce. Ao receber uma carta de Mandel dizendo que o ama,
Jullien sai à procura dela; ao encontrá-la no memorial, já fragilizado, Davenne
completamente enlouquecido diz que falta uma vela acesa, no caso a sua e morre.
Truffaut traz com essa obra questões de difícil assimilação e até mesmo
dificilmente digeríveis. Esse foi considerado pela crítica um dos piores filmes
de sua carreira, com o menor público de bilheteria, no entanto a obra nos traz
uma reflexão sobre a finitude da vida, reflexão essa que não fazemos
diariamente.
François Truffaut deixa um pouco de lado nesse filme sua relação de
exaltação da mulher, para dar espaço à morbidez, no entanto não deixa de fora o
amor, a possessão pelo outro, o que é visto na possessão de Davenne pela mulher
falecida, traz também sua paixão pela escrita, no próprio Jullien que é escritor
de um jornal.
Esse filme, além da originalidade, mostra a grande força de um amor
verdadeiro e que a vida preciosa de pessoas que foram tão especiais em sua
existência não pode terminar simplesmente de forma tão banal.
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