Uma
mulher casada e o universo simbólico da condição humana
Vanderlei Barbosa
Uma Mulher Casada (Une Femme Mariée) é um filme de
Jean-Luc Godard de 1964. Apesar de mais de meio século do lançamento, a
película mantém, de um lado, o frescor erótico e, de outro, a atualidade
crítica do corpo como objeto de consumo. O contexto retratado é a década de 60
do século passado, marcada pelo progresso tecnológico do pós-guerra na Europa.
Os personagens são figuras dramáticas - a esposa, o marido e a amante ou o
engenheiro, o piloto e a jovem mãe - que expressam uma existência fragmentada
em meios aos muitos estímulos consumistas que as rodeiam. Ao mostrar o
adultério e a sexualidade como apropriação da lógica do consumo Godard faz uma
apreciação crítica da realidade da Paris moderna, mas, ao mesmo tempo, marcada
pela desconfiança, pela incerteza e pelo vazio das relações humanas.
Uma
Mulher Casada, é um filme que aguça os sentidos e educa o olhar
para observar o corpo a partir de uma outra ótica, ou seja, normalmente a
sexualidade explorada em tela, abusa dos seios e da nudez. Godard explora os
braços, as pernas, o ventre, o rosto, as mãos, os pés, a nuca... Como quem diz:
a sexualidade e as emoções são ritualmente organizadas, no movimento dos
corpos, segundo as circunstâncias de cada cultura. É isto que mostra Godard,
nesta película, onde ele analisa, entre outros, o estatuto do corpo na Paris da
década de 60, onde as pessoas se apropriam de sinais e gestos para manifestar e
dar vida às suas emoções e ás suas paixões.
Na
seqüência fílmica fica explicita o universo simbólico que constitui a nossa
condição humana. Em outras palavras, no humano tudo é ao mesmo tempo biológico
e cultural. A dimensão física e a dimensão simbólica estão intrinsecamente
coladas.
Acompanhando
o desenrolar da trama dos personagens, na perspectiva da dimensão simbólica,
vemos a singularidade de nosso existir que emerge da mais profunda e secreta
intimidade; entretanto, vemos também a complexidade de nosso existir que
adentra no mais explicito cultural. Esse estranhamento que o filme provoca nos
leva a refletir sobre a necessidade de ampliar nossas percepções sobre nosso
ser e existir. Ou seja, não podemos viver superficialmente integrados num mundo
de imagens ilusórias, de falsas aparências, mas é preciso viver com maior
densidade e exuberância a verdade possível para além do certo e do errado.
Sim não há como viver sem a própria razão,ou seja a verdade de de nós mesmos,viver o real más sem esquecer de sonhar!
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