Ventos do Leste

Por Elisangela B. Xavier

O filme “Ventos do Leste” foi lançado em    1976 pelos diretores Jean-Pierre Gorin, Jean-Luc Godard. A obra apresenta uma reflexão apresentando questionamentos sobre as lutas de classe e busca desmistificar o cinema burguês, além de tratar sobre posições políticas anticapitalistas. O cenário na maior parte do filme é simples, num espaço aberto com valorização da natureza, somente no final do filme é que o centro de uma cidade é mostrado.
O plano inicial mostra um rapaz e uma moça deitados na grama, imóveis por vários minutos ao som de uma música de fundo. O filme pode ser considerado anticomercial, mas, para cumprir uma exigência de fazer um western, mesmo que seja ao seu próprio modo, apresenta Gian Maria Volonté vestido de soldado da União, montado a cavalo e levando um prisioneiro de mãos atadas que o segue a pé. O filme apresenta seis personagens nunca nomeados mas cuja caracterização (figurinos, gestos, falas) e cuja interação com as paisagens amplas tendem a evocar figuras e situações de um western. Três atores evocam um soldado Yankee, uma mocinha burguesa e um índio vindos do western, e os três outros evocam um casal de jovens revolucionários e um personagem que a banda sonora sugere ser um líder sindical.
O diretor Glauber Rocha participa de uma pequena cena do filme, um breve plano de dois minutos no meio desse filme, em que Glauber aparece, a pedido de Godard e Gorin, indicando dois caminhos possíveis para o cinema político de então. Ele se encontra em uma encruzilhada, quando é abordado por uma mulher grávida que pergunta o caminho do cinema político. Glauber então aponta para o "cinema perigoso, divino e maravilhoso". Isabel Pons (namorada de Gorin na época e que representa Godard), grávida de uns seis meses, jovem e bonita, de camisa longa e clara dando a ver suas pernas nuas, e trazendo nas costas uma câmera, aparece em segundo plano, no fundo do quadro, andando pelo caminho de terra rumo à encruzilhada em que Glauber se postou.
Mulher: Desculpe interromper a sua luta de classes, mas qual é a direção do cinema político?
E ele responde: “Lutar contra o conceito burguês de representação” (frase várias vezes repetida – usa essa estratégia para dar ênfase ao que julga mais necessário.) Durante a cena ele canta um trecho da música “Divino maravilhoso” de Caetano Veloso e Gilberto Gil: “Atenção! É preciso estar atento e forte / não temos tempo de temer a morte / É preciso estar atento e forte / não temos tempo de temer a morte”. Quando Glauber surge no filme, ele parece anunciar uma quarta via, o cinema do terceiro mundo.

            A obra apresenta intervenção de várias vozes over, ora em francês, ora em italiano, falando, sobretudo das lutas operárias, de modo a trazê-las também para a ficção. Algumas cenas mostram as próprias filmagens (atores se maquiando, assembléia da equipe discutindo como usar uma imagem de Stalin, etc) e muitos planos trazem inserts de cartazes anunciando blocos do filme, mostrando fotos rabiscadas e repetindo slogans políticos.

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